Não basta concordar com ela
Ela já passou dos 30 e agora quer morar junto e casar com você. Você, divorciado, não vê tanta coisa boa nessas duas experiências. Depois de uma longa conversa, concorda: “Você está certíssima, deveríamos morar juntos, vou começar a me planejar para isso”. Pois saiba que, quando uma mulher reclama, ela não quer concordância ou justificativa, ela não quer vencer a discussão ou estar certa (desejos todos masculinos). Ela quer provocá-lo e incitá-lo a agir. Ela não quer palavras, ela quer ação.
Você não tem coragem de viver seus desejos
Agora sua namorada dorme no quarto. E você, na sala, se acaba com filmes pornôs na internet. Seu site preferido tem incontáveis vídeos que mostram mulheres deliciosas dormindo e sendo abusadas de todos os jeitos, por todos os lados, sem acordar em nenhum momento, como se estivessem mortas. É esse seu tesão do momento, fantasia insuperável. Sua namorada de carne e osso, linda, lá no quarto. E você imaginando comer a garota com calcinha de pixels que dorme à sua frente. Você goza em um guardanapo, joga o papel no lixo da cozinha e vai se deitar ao lado dela. Boa noite.
Ele não virou um monstro
Não, no fim da relação, ele não virou um monstro e sim, você o conhecia o tempo todo. Não me venha com essa de “Eu passei 6 anos com ele e só agora vejo o monstro que ele sempre foi”. Ele fez mil coisas boas e no momento de maior confusão e fraqueza, quando ele mais precisava de você, você só sabia falar: “Eu preciso tanto de alguém que me deseje de verdade!”.
No começo, você focou as qualidades positivas, encheu-o de elogios e assim o fez príncipe. No fim, você focou as qualidades negativas e, claro, ele surgiu como um imbecil nojento. Ele não mudou, ele apenas tem um guerreiro e um fracote dentro de si, prontos para brotar a qualquer momento. Com sua generosidade ou carência, você, sem saber, o construiu o tempo todo.
Se ele agora parece chato, isso é falha sua: a chatice é o modo pelo qual vocês estão se relacionando, ela não é dele. Provavelmente ele também deve estar reclamando: “É ela quem é chata”. Todas as qualidades, negativas e positivas, não são dele e tampouco suas. Elas surgem no espaço entre seus corpos. Elas surgem no espaço que vocês são.
Ninguém esquece ninguém
Se você diz que já o esqueceu e que nunca mas voltaria com ele, isso significa que você não o superou. A necessidade de mantê-lo esquecido apenas revela o enorme significado impregnado em sua imagem. Se admite que não o esqueceu e considera a possibilidade de algum dia voltar com ele tanto quanto a de se envolver com qualquer outro, talvez você já o tenha superado, ou seja, retomado a liberdade que não descarta nenhum percurso de vida.
Você não é a pessoa que mais pode fazê-lo feliz
Ele poderia ser mais feliz com outra. Você também: poderia ser mais preenchida, viver mais experiências, ser mais amada por outro. Por não querer (e não conseguir nem imaginar) que ele seja mais feliz com outra, você dá o exemplo: não admite que você também poderia ser mais feliz com outro. Ao se achar suficiente, seu comodismo a torna menos capaz de amá-lo. Ironicamente, acreditar que você é a pessoa que mais pode fazê-lo feliz só diminui a verdade de tal afirmação.
Por outro lado, imaginar uma possível outra parceira para ele é o primeiro passo para incorporar tais qualidades e de fato se tornar essa parceira. E imaginar outro possível parceiro para você é o primeiro passo para descobrir como você quer ser possuída e dar as dicas necessárias para que seu parceiro atual saiba o que fazer.
Não há inimigos
Parece que há pessoas boas e parece que há pessoas más. Parece que há um centro de negatividade em algumas, parece que elas são mesmo malignas, de fato, assim, por dentro. Parece que elas não querem o mesmo que você. Parece que elas jogam em outro time.
Ao ver inimigos ao redor, os outros surgem como inimigos. Como se um mendigo falasse: “Você está pensando que vou te roubar, né? Então é isso: passa a bolsa”. Nossa percepção funciona como uma profecia que se autorealiza ( self-fulfilling prophecy). Vemos aquilo que esperamos ver. Por isso ficamos agressivos e defensivos, acreditando que a agressividade vem dos outros.
Todos os seres buscam prazer e felicidade e se esforçam para evitar sofrimento e dor. Qualquer um deseja a habilidade de trazer felicidade a todos ao redor. Estamos todos no mesmo time. Não há inimigos em lugar algum. Pode não parecer, mas todos querem a sua felicidade, todos querem fazer bem para você, mesmo quando o fazem sofrer, quando humilham, batem, estupram, ignoram, xingam você. Eles apenas não sabem como amar. Conseguem amar outros, mas com você não descobriram como fazer. Sim, é mais fácil considerá-los como inimigos. Mas eles são amigos de longa data cujas histórias residem no futuro.
Você quer ser interrompida
Todo dia é tranquilo. Você é solteira, sua vida é estável, você ganha bem, às vezes sai com homens interessantes, às vezes chama sua irmã ou amiga para ir ao cinema. Ou você é casada e sua vida é estável, você ganha bem, às vezes deixa de sair com homens interessantes e às vezes chama sua irmã ou amiga para ir ao cinema.
Sua vida está no seu controle há tempo suficiente para você desejar perder o controle, voluntariamente, por pura liberdade e diversão. Você quer ser surpreendida, arrebatada, contrariada, violada, rendida. Você acha que não existe homem algum com coragem para fazer aquilo que você quer mas não consegue imaginar. Ou para fazer aquilo que você sempre disse não querer. Ainda assim, enquanto espera pelo próximo beijo na tela, você secretamente mantém a esperança de encontrá-lo.
Suas certezas são gritos perdidos no abismo
Você tem um blog lilás onde escreve sobre relacionamentos. Você acorda com idéias sobre como outros podem viver suas relações de modo mais ousado, criativo e lúcido. Enquanto você escreve sobre amor, alguém liga no celular. E então você é ríspido e irônico, se fecha e faz tudo ao contrário do que escreve.
Seus textos são imperativos e impositivos pois você escreve para si mesmo, na ânsia de convencer a si mesmo de que sabe alguma coisa sobre mulheres, amor, sexo e tudo o que vem junto. Seu aparente altruísmo é apenas veículo para seu egoísmo.
Suas certezas sobre relacionamentos são como gritos perdidos no abismo. Ninguém sabe de onde vem, são meio desesperadas e quem se importa? Elas não alteram o fato de que estamos todos caindo. Muito melhor parar de gritar e tentar encontrar alguma mão para fazer um pouco de carinho antes de morrer.
Lá do Não dois Não um
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